Cabo Verde perdeu uma das suas vozes mais sensíveis e comprometidas. Romeu di Lurdis, nome artístico de Carlos Manuel Tavares Lopes, faleceu em Portugal, onde se encontrava para atuar no Auditório da Igreja da Damaia. Tinha 36 anos. Inicialmente, diversas fontes avançaram que a morte teria resultado de um acidente de viação, mas familiares próximos esclarecem que a causa foi, na realidade, um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A informação oficial ainda não foi divulgada.
Natural da ilha de Santiago, Romeu di Lurdis destacou-se como músico, compositor, poeta e ativista cultural. A sua obra combinava emoção, reflexão social e forte ligação à realidade cabo-verdiana, abordando temas como amor, migração, desigualdade e esperança. As letras, muitas vezes em tom confessional, davam corpo a histórias que o público reconhecia como suas.
Em 2018, lançou o álbum Amoransa, uma fusão das palavras “amor” e “esperança”, que marcou a sua estreia discográfica e o apresentou a um público mais amplo. Canções como Ranja ku Mi, Txitxaru Fresku, Sonhu Sufridu e Amargura tornaram-se referências para quem acompanha a nova geração de músicos cabo-verdianos. Em 2023, regressou com Korason Abertu, apresentado no Centro Cultural do Mindelo, num trabalho que revelou uma fase mais madura e introspectiva da sua carreira.
Licenciado em Gestão do Património Cultural, Romeu di Lurdis não se limitou aos palcos. Envolveu-se em projetos educativos e culturais, colaborando com instituições como a Universidade de Cabo Verde e participando em iniciativas que aproximavam arte, comunidade e pensamento crítico. Para muitos jovens, era exemplo de que a música pode ser, ao mesmo tempo, espaço de beleza estética e ferramenta de questionamento social.
A sua morte deixa um vazio difícil de preencher na cultura cabo-verdiana. Amigos, colegas de profissão e admiradores multiplicam homenagens nas redes sociais, recordando concertos, encontros e a forma generosa como o artista partilhava o seu tempo e o seu talento.
O legado de Romeu di Lurdis sobreviverá nas gravações, nas memórias de quem o ouviu ao vivo e nas sementes que deixou em projetos culturais e comunitários. A sua voz cala-se, mas o eco das suas canções continuará a acompanhar quem encontra, na música, um lugar para sentir e pensar Cabo Verde. Que descanse em paz.