Uma investigação publicada pelo jornal espanhol El Español reacendeu o debate sobre turismo, vulnerabilidade social e exploração sexual em Cabo Verde. A reportagem descreve o país como “novo destino sexual” para mulheres estrangeiras, sobretudo espanholas, apontando situações em que jovens cabo-verdianos, muitos deles menores e oriundos de famílias com poucos recursos, se envolvem em relações de troca em busca de apoio financeiro.
Segundo o jornal, parte desse fenómeno é visível nas redes sociais, em especial no TikTok, onde algumas turistas partilham vídeos virais relatando experiências com homens cabo-verdianos. Entre elogios à aparência física e comentários mais sugestivos, constrói-se uma narrativa que normaliza ligações em que sexo, dinheiro e vantagens materiais se misturam. “Parece que este é o único sítio com uma taxa mais elevada de prostitutos do que de prostitutas”, resume uma das entrevistadas.
A reportagem recorda que o problema não é novo. Em 2023, um relatório da ONG Morabi já alertava para “relações de troca entre mulheres estrangeiras e adolescentes do sexo masculino no Sal e em Mindelo”, muitas vezes justificadas como forma de apoiar despesas escolares ou necessidades básicas das famílias. A freira espanhola Milagros García López, com mais de duas décadas de atuação em São Vicente, afirma que há turistas que vêm explicitamente em busca de relações com jovens locais, enquanto outras mantêm vínculos à distância, enviando dinheiro regularmente.
Associadas e organizações humanitárias têm consciência da situação, mas apontam falta de recursos e de mecanismos eficazes para atuar de forma estruturada. O desafio é complexo: passa por proteger os jovens, responsabilizar eventuais casos de exploração e, ao mesmo tempo, evitar que todo um destino turístico seja reduzido à imagem de “mercado sexual”.
Importa sublinhar que os vídeos de homens cabo-verdianos que viralizam no TikTok – muitas vezes destacando apenas a beleza física – não são, por si só, conteúdo sexual explícito. Funcionam, porém, como uma vitrine espontânea que desperta curiosidade internacional e, num contexto de desigualdades económicas, pode ser interpretada por alguns como convite a relações de troca.